O grupo Matema (2003-2005) surge como uma convergência de vários grupos de áreas artísticas diferentes: as bandas de rock experimental Rádio Macumba, Malditos Ácaros do Microcosmos, Jason e Boi Mamão; o trabalho erudito de pesquisa em composição eletroacústica de Glerm Soares; as obras plásticas, fotográficas e Web-Art de Lúcio Araújo; a pesquisa em redes, servidores e tecnologia de áudio de Nillo Ferreira; a experiência em dramaturgia com a Cia Malditos e a peça “Malditos somos nos tentando ser nos mesmos”; e sobretudo o ativismo político e lúdico do organismo coletivo Vitoriamario, do qual Matema é uma das células. Em 2005, Matema realizou um álbum denominado "Dissolve e Coagula" e trabalhou em um servidor web dedicado ao coletivo, contribuiu com o projeto acadêmico EmbapLab, cujo objetivo era articular grupos colaborativos com pesquisadores técnicos da área de exatas (programadores e engenheiros), artistas e educadores em busca de novas ferramentas para novas estéticas e por alternativas de produção fazendo uso de software livre. Como ato performático Matema propõe a desconstrução do espetáculo alienante pela catarse exasperada, trabalhando com sons explosivos que contrastam com singelos momentos de quase-silêncio. Visualmente trabalha tanto com a analogia algorítmica computacional entre imagem, ritmo e som quanto com a re-significação e deslocamento dos objetos (eletrodomésticos, luzes, vegetais e outras máquinas) – o Ready-Made em ritual.
Para explicar os fluxos e mecanismos da linguagem humana sem estar contaminado por sua carga semântica, o psicanalista Jacques Lacan utilizava-se de equações e "grafos" aos quais referia-se como MATEMAS (termo que condensa o"mitema" de Lévi-Strauss e "mathêma", palavra grega que significa connhecimento). Tudo isso agora simplificado por Vitoriamario como Matema.
MATEMA é álgebra assim como música é estrutura, assim como poesia é letra sobre papel. É ciência pura infiltrando-se nos ritos de catarse. Onde a subjetividade deseja ao máximo a demanda do objeto. Onde a explosão de sentido empírico gera a { ilusão (?) / certeza (?) } de unidade. Onde o 1 se une ao 0 para formar para sempre um novo significado para 10 ( isto pode não ser dez).
Imagens do Matema em seu estúdio - Curitiba/PR
Glerm Soares – Voz, efeitos sonoros, computador, teclado Gus Pereira – Bateria, percussão Lúcio Araújo – Baixo, guitarra, voz Nilo Rocha Jr. – Guitarra, computador, Voz Rodrigo Soares – Saxofone, clarinete, VJ
Computador, Baixo, Guitarra, Bateria, Saxofone, Clarinete, Theremin, Apitos, Telão, Televisores, Liquidificador, Aspirador de Pó, Neon, Teclado, Voz
Matema - Dissolve e Coagula - 2005: formato mp3 | formato wav
CopyLeft: Matema e co-autores citados nas Letras e nas Tags dos Mp3
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01 Upgrade do Macaco 02 Espelho 03 Pilha 04 Square Root 05 Coroa da pena do pássaro sagrado da Eternidade 06 Dúvida 07 Lágrima 08 Dicionário 09 Solve et coagula 10 Asas Quebradas dos Anjos 11 Taleban Surfmen 12 Claustrofobia 13 Contingência 14 Refrônica 15 Lúcida 16 Vírus em Rizoma 17 Dissolvendonostodossssssssshhhhhhhssssssssshshs -q – q 0 18 Why do you bother?
Rock de Inverno 5
Festival dedicado à (nova) música independente de Curitiba. A apresentação do Matema aconteceu na casa de shows "Cine Música Bar" no dia 07 de agosto de 2004.
Filipeta de divulgação do Rock de Inverno 5
Músicas Espelho e Solve et Coagula - Rock de Inverno 5. 2004. Vídeo: Marcelo Borges
Imagens: Iaskara e anômimo
Curitiba Calling - Edição 7
O Festival aconteceu no legendário espaço cultural do rock "92 Graus" em Curitiba. A apresentação do Matema aconteceu no penúltimo dia do festival - 26 de março de 2005.
Filipeta de divulgação do festival Curitiba Calling - 92 Graus - 2005
Integrantes do Matema: Glerm, Nilo e Lúcio (da esquerda para direita). Imagem: Lucida Sans
Costurando pontos - Casarão UPE
A apresentação integrou a iniciativa de ocupação e intervenção do histórico casarão da UPE em Curitiba, ocorrida entre do dias 12 a 15 de Outubro de 2005. Costurando Pontos foi uma ação de articulação de redes, troca e experimentação artístico-tecnológica entre diversos grupos locais e nacionais.
Imagens: Lúcio Araújo e Lu Ambrósio
MATEMA propõe a transcodificação de toda e qualquer percepção cognitiva, bem como fluxos neurais imaginários, em um vórtice de ondas inarmônicas, puros ciclos senoidais no microcosmos dos arquétipos do som e fúria.
Trata-se do próprio intonarumori bioconcreto profetizado por Russolo em 1913, percorrendo dos perturbados sintomas dissonantes do pós-rock ao racionalismo numérico tecnológico da música eletroacústica. Trabalhando desde o determinismo absoluto dos algoritmos até o jogo de azar onde se esconde o sujeito da palavra "sentimento".
A resultante desta complexa equação com n variáveis é uma simbiose, um dilema de transubstanciação da forma em tempo. Neste plano, a matéria passa a ser simultaneamente organizada e desorganizada na pulsão do inextrincável.
Ao estado das palavras e das coisas MATEMA é incisivo. Como ativismo político enuncia sua colaboração na desconstrução dos mecanismos de poder vigentes, instigando a criação de novos signos profiláticos à virulenta síndrome da alienação. Com instrumentalização catártico-poética vem operar diretamente na psique do humano, exato ponto onde os tabus se desmoronam.
{
enquanto
MATEMA = aquilo que é enquanto sempre foi ;
MATEMA = MATEMA / MATEMA * MATEMA ;
enquanto enquanto
}
(Telegrama - Máquina I)
MATEMA número MATEMA
Não considerar o desejo uma superestrutura subjetiva
que fica pisca-piscando.
Fazer o desejo passar para o lado da infra-estrutura, da
família, do ego e a pessoa para o lado da
antiprodução.
Abandonar uma abordagem do inconsciente pela neurose e a
família, para adotar aquela, mais específica dos
processos esquizofrênicos, das máquinas desejantes.
Renunciar à captura compulsiva de um objeto completo
simbólico de todos os despotismos.
Desfazer-se do significante.
Deixar-se deslizar pelos caminhos das multiplicidades reais.
Parar de ficar reconciliando o homem e a máquina: sua
relação é constitutiva do próprio desejo.
Promover uma outra lógica, uma lógica do desejo real,
estabelecendo o primado da história relativamente à
estrutura. Promover uma outra análise, isenta do simbolismo e da
interpretação, e um outro militantismo, arranjando meios
para libertar-se por si mesmo das significações da ordem
dominante.
Conceber agenciamentos coletivos de enunciação que
superem o corte entre sujeito da enunciação e sujeito do
enunciado.
Ao fascismo do poder opor as linhas de fuga ativas e positivas que
conduzem ao desejo, às máquinas de desejo e à
organização do campo social inconsciente.
Não é fugir, você próprio, "pessoalmente",
dar o fora, se mandar, mas afugentar, fazer fugir, fazer vazar, como se
fura um cano ou um abcesso.
Fazer os fluxos passarem sob códigos sociais que querem
canalizá-los, barrá-los.
A partir das posições de desejo locais e
minúsculas, pôr em cheque, passo a passo, o conjunto do
sistema capitalista.
Liberar os fluxos, ir longe no artifício, cada vez mais.
Referência: GUATTARI, Félix. Revolução Molecular. Pulsações Políticas do Desejo. São Paulo: Brasiliense, 1987.